quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Os Sons do Silêncio






Alguns que dizem "entender de música" costumam se perguntar o que poderia haver de genial em Tom Jobim,afinal ficar a dedilhar daquela maneira o piano seria de tão pouco virtuosismo(aliás,imagino que compor sinfonia como ele chegou a fazer deva ser tarefa de molequinho também).
O mesmo deve valer para a suavidade de outro maestro,Burt Bacharach em suas trilhas sonoras para filmes,e a comunhão com uma dimensão silenciosa implicada em seu método,o que nem todos devem perceber,pois além de não serem muito bons para entrelinhas ainda mais sutis,seriam viciados em "sensorialismos tapa buracos",seja da vida,ou da alma(o que dá mais ou menos no mesmo).
Depois voltaremos a isso,já que estou correndo para uma reunião de escola.Mas a coisa passa bastante pelas declarações de um amigo de Marcelo Coelho,sábio no assunto e aqui a falar de interpretações na "música clássica".De música,no fim das contas.

"Piano, vinho, Debussy


Um amigo, há muito tempo professor de piano em Nova York, esteve em casa nestes dias. Tempos atrás, neste blog, eu elogiara o CD dos Estudos de Debussy por Jean-Efflam Bavouzet. A reação dele veio por e-mail: trata-se de um pianista amaneirado, superficial, efeitista.
Aqui em casa, de partitura em punho, ele me mostrou a quantidade de coisas que o famoso virtuose ignorava na complexa textura pianística de Debussy, privilegiando apenas o impacto sonoro da própria virtuosidade.
Vivendo e aprendendo...
Mas esse amigo meu é incontentável. Como excelente profissional do ramo, suas avaliações estão no polo oposto dos simples entusiasmos de um discófilo. Horowitz? Só é genial quando acerta... caso contrário... Cláudio Arrau? Ótimo com orquestra. Sem orquestra... E Marta Argerich? O Chopin dela não dá certo.
Mito depois de mito caía nas avaliações de meu amigo. E ele me mostrou a mais fantástica e convincente interpretação do primeiro concerto para piano de Brahms. Não tinha a grife de nenhum pianista conhecido: foi tocado por Norman Krieger, com a regência de Jo Ann Faletta. Ouça aqui: http://www.normankrieger.com/

É de fato uma interpretação maravilhosa, num entendimento perfeito com a orquestra, numa sabedoria no uso da dinâmica, e numa presciência do rumo que a música deve tomar, raras de se ouvir nas melhores interpretações.



Mas a pergunta principal que tinha de ser feita a esse professor de interpretação pianística era a seguinte: afinal, vigora a justiça, ou vigora a injustiça, no mundo da música clássica?

Minha impressão é de que vigora a justiça. Ou seja, os talentos excepcionais acabam sendo reconhecidos, e os menores tendem a recolher-se a seu devido lugar.
Esse amigo não acredita tanto nisso. Considera que o marketing, a política das grandes gravadoras, o caráter impressionável do grande público preponderam sobre o mérito real dos musicistas.
Visão pessimista, de quem vive a coisa por dentro. Talvez, por viver a coisa por dentro, esse amigo exagere as injustiças, assim como um filho, numa família de muitos irmãos, pode sempre reclamar dos pais a falta de atenção de que foi vítima.
De fora, sou mais otimista. Afinal, apesar das manipulações mercadológicas, o mundo da música clássica é competitivo ao extremo. O mercado é ambíguo, reconheço, nesse ponto: pode ser distorcido pelo marketing, mas é purificado pela concorrência.
Depois de ponderar esse dilema, fiquei pensando também se não estamos às voltas com minúcias, como acontece com especialistas em vinho discutindo as respectivas qualidades de uma safra em comparação com outra.
Deus me livre disso. Meu amigo, aliás, abomina comparações entre diferentes pianistas: passatempo de discófilos, diz ele.
Que a música toque por si mesma, e que o compositor valha mais do que o intérprete: eis uma coisa que, num meio que tende ao pedantismo, vale sempre enfatizar. Ideia que meu amigo não se cansa de defender, aliás. Quem sabe das coisas nunca dá de sabido".

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