sábado, 8 de agosto de 2009

" A Verdade não se encontra nos homens, mas entre os homens"/ "Encontros e Desencontros" e o Elogio da polifonia do discurso, ou do discurso poético





Por esses dias peguei na tv o filme Lost in Translation, de Sofia Coppola, ao qual já voltei inúmeras vezes e pude nesses fragmentos da tv relembrar um dos motivos que o tornam uma das obras mais interessantes dos últimos tempos.Esses personagens um tanto alheios, com o sentimento de não pertencimento ao mundo(apesar de serem de gerações tão distintas),traduzem muito bem uma famosa frase de Sócrates.
Durante parte considerável do filme a percepção equivocada dos personagens faz com que pensem que, ou algum sentido deveria brotar do mundo ou bem deveria brotar de si mesmos, o que não deixará de enfatizar ainda mais a distância frente ao mesmo mundo, ou dessas pessoas frente a elas mesmas.
A fronteira opaca entre o ser e o mundo equivale à uma idêntica opacidade do ser para consigo próprio, até que uma espécie de fluxo aparentemente alheio a essas personas virá conferindo gradativamente forma, ou formas ao amorfo. E assim como na frase de Sócrates, se materializa aqui que "a verdade não se encontrará nos homens, mas entre os homens".
E de tal maneira que esse jorro um tanto polifônico( como de um filósofo polifônico) tornará as personagens quase incapazes até o fim de captar tamanha experiência,que se constitui com exatidão entre os intervalos e o mais abrupto e do abrupto aos intervalos, em perfeita forma, sintonia e equilíbrio de medidas. Sofia Coppola reinventa, ao contextualizar para o mundo contemporâneo, algo como O Esporte Favorito dos Homens, de Hawks, entre outros filmes. Embora aqui com um interesse suplementar pela meditatividade do casual, unida aos silêncios e a uma considerável ludicidade.
Se esses não apagam por completo o sentimento de se estar um tanto desalojado no mundo, ao intercambiar de maneira quase imperceptível as instâncias do cinema americano, europeu e oriental, Lost in Translation vai conferindo aos poucos uma espécie de revigoramento poético ao cinema americano nesse estar sempre colado nos interstícios à espera de que algo brote.
Assim, o aparente efêmero "contaminado" abrirá fronteira com o eterno, como muito bem atesta a fulminação um tanto mágica das imagens finais,que não perdem um nadinha da extrema discrição do restante da obra.(Dessa discrição mágica e silenciosa que tomou conta de um filme realizado todo à espreita, dando margem a improvisos frente a lacunas propositais realizadas paradoxalmente em moldura americana).
Se não houver a percepção apropriada para essas lacunas, que o filme, a se ver bem sintonizado, as preencha para nós, pois permanece brilhante e ainda o melhor trabalho de Sofia Coppola.

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