quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Escola 2




Na segunda escola,que envolve um projeto social,o prazer advém muito da moçada.Primeiramente,o mais honesto seria eu falar mesmo em tom de confissão:Raramente eles me irritam.Já passaram e ainda passam por tanta dificuldade,perderam tantas oportunidades(a maioria delas não foi sequer cogitada em suas vidas)que nada(ou quase)me estressa.Não se trata de paternalismo. É que sei perspectivar melhor cada caso.
Como têm mais de 18 de idade,seria um pouco estranho pra mim esse papel de papá.Eu que mal dou conta de minha filha de 7 meses,que diria deles?Vejo-os,na verdade,como iguais,em vários pontos.Aparentemente temos origens bem distintas,culturas diferentes e tal.
Mas se estão à margem por alguns motivos,nem por isso deixei ao longo da vida de me colocar em um "outro lado"(sem malícias de posições,por favor).Menos por escolha, é mais por ontologia.Que palavrinha chique,hein?Como o "Peixe Grande", que não pode viver fora da água.Questão de natureza.No meu caso,sou o peixe nanico.
Não conseguiria exigir também certo tipo de cultura dessa turma.No caso da outra escola é diferente,pois os meninos têm recursos,oportunidades:Cavem seu poço. No Pró-Jovem é muito,muito diverso.
Mas gostaria de falar bem,sem nenhuma demagogia,da trupe de professores,meus comparsas.Não sei se eles têm a mesma visão progressista como a turma da outra escola.Talvez até não.E se não,é realmente lamentável que o seja.Na maioria do tempo,estou ocupado com meu próprio trabalho.Não me interessa meter o bedelho em trabalho alheio.
Certa vez levei uma letra de música do Ira para ser trabalhada,e a coisa não vingou,pois os meninos foram tratados como crianças e não como jovens de mais de 18 anos.Ou seja,a meu ver eles foram subestimados.Na outra escola,em que os alunos têm menos do que isso,nunca relutariam em trabalhá-la.Primeiramente veriam o que está "por trás" ,melhor,leriam nas entrelinhas e a professora de Sociologia seria a primeira a querer trabalhá-la.Na verdade,na escola,digamos,mais progressista,cheguei a ler a letra no momento de reflexão que antecede as aulas e os professores entenderam muito bem a proposta,o discurso da enunciação presente na música e gostaram deveras.Alguns até se empolgando.Ou seja,intelectualmente,culturalmente,falamos mais a mesma língua.A partir de lugares parecidos,semelhantes.
No Pró-Jovem rola muita questão administrativa e reuniões longas e sem grandes resultados sobre todos os assuntos.Menos sobre conhecimento e a perspectivação dos jovens no campo de um saber mais abrangente,levando em conta as várias possíbilidades de desenvolvimento.
A turma com quem trabalho(escola acima,na região),é a melhor possível.O grande defeito do bicho-homem é se considerar sempre melhor do que se é,de fato.Com todas nossas imperfeições,que podem ser sempre mais assumidas em um exercício concreto de humildade,gosto de todos ali,consideravelmente.Nos damos muito bem no trabalho.Embora não tome café em suas casas,nem eles na minha.Muito menos,molhando a bolacha no dócil líquido.Bem,coisas de mineiros.E eu, que sou mineiro,mas não sou(numa outra oportunidade me explico melhor sobre isso,assim como a riqueza presente nesses paradoxos barrocos),prossigo,como os demais.
Depois,com mais tempo,tentarei falar um pouco de um por um,de uma por uma.Dizer que não há afeto,como chegou a ser sugerido em uma reunião lá de baixo,é forçação de barra.O que tem de ser dito,falamos comumente logo,de cara,pra coisa não se complicar depois.Se essas mentiras que existem em toda relação de trabalho fossem se subtraindo a cada dia,teríamos sempre ótimos ambientes para trabalhar.No meu grupo,sinto considerável honestidade,franqueza para com eles.Daí a coisa flui,sem tensões desnecessárias.
Feliz Natal,galera do trabalho!Sem Papai Noel plastificado e sem o Cristo morto na cruz(herança maldita ibérica, também dos jansenistas e dos protestantes de Bergman),mas o Jesus mais próximo,"eu vos chamo de amigos",o vivo,a despeito de todas as tradições humanas que quiseram comê-lo com fascismo,mercantilismo e angu.

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