domingo, 13 de dezembro de 2009
Mann e o corpo a corpo
Uma entrevista muito interessante com o cineasta Michael Mann( de Miami Vice,Colateral,Inimigos Públicos)no "Ilustrada no cinema".
Primeiramente um excerto em que ele engrossa o caldo da questão da autoria nessa arte,provocando os mais puristas de plantão:
"Hoje, temos menos problemas trabalhando com um grande estúdio do que com um produtor independente. Com um independente você é obrigado a lidar com dez produtores,15 conselheiros que se consideram artistas e toda essa merda".
Sobre o estilo:
"Pergunta - Você é um estilista, um formalista. Para você o estilo é mais importante que a história?
Mann – Um filme estiloso cuja história é fraca atrairá nossa atenção durante cinco minutos, não mais. Um cinema puramente formalista é algo imaterial, não tem nenhum sentido."
Sobre a velha dicotomia demasiado enfadonha em que se digladiariam cinema como arte versus cinema como entretenimento.Pingos nos is:
"Mann: Para o estilo enquanto tal, eu não estou nem aí. Assim como estou me lixando para a maneira como as pessoas me percebem: como um artista ou um “entertainer”... Para mim, o crime capital de um realizador é se tomar por isso ou aquilo. Se me tornasse vaidoso e me observasse filmar, eu me condenaria a um fracasso certo e total! Pensar em seu próprio estilo não passa de sedução imatura."
Há um tempo nesse mesmo espaço cheguei a dizer do primeiro impacto que foi ver "Inimigos Públicos" como sendo o de alguém que toca e se sente tocado por "puros rostos("Faces"),Sombras("Shadows"),de uma maneira quase tátil".
Em suma,como que sendo um verdadeiro luxo para os sinestésicos,por excelência.
À parte as muitas distinções entre Mann e um filme de Cassavetes(diretor de "Shadows" e "Faces"),ambos lidam com esse mesmo estado de troca físico-amorosa entre diretores e espectadores.
Para Silviano Santiago,a obra de Drummond como a de Clarice Lispector e de Graciliano Ramos são um caso único na literatura brasileira por essa busca do corpo do leitor por intermédio da palavra,o que consistiria em uma atitude de aproximação erótico-amoroso via signo verbal e os seus silêncios.
Como isso se daria no signo visual do cinema de Michael Mann?
"Mann – O recurso digital me proporcionava a sensação de estar vivo em 1933,de ser contemporâneo da época no filme,de quase poder tocar na gota d’água que cai no carro preto.... Não queria que o público visse meu filme como um truque retrô."
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