terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Pequeno esclarecimento("feio" de se dizer ou de se olhar?)




Há pouco tempo nesse espaço falei da estratégia do filme sobre o Lula.Algumas pessoas tedem a confundir as coisas,que quando se esclarece algum ponto capital de alguma estrutura,tudo pareça pessoal.É como alguém afirmar que quando se cutuca algo do Brasil,a evidência seria de ódio pelo país.
Partindo desse pressuposto,não se pode falar de nada,já que todas as relações seriam baseadas em apenas mentiras e superficialidades.Você não pode falar nada de ordem profissional para um colega de trabalho,que será interpretado como sendo pessoal.Prova de amizade seria mentir para o amigo,para agradá-lo(leia-se: agradar a si mesmo com isso),de amor esconder tudo que lhe desagrada à "sua" mulher ou "seu" homem e,claro,os melhores pais seriam aqueles que mimam seus filhos ou bem se omitem quanto a tudo?
Com algumas exceções,caso do Diogo Mainardi da Veja(esse sim,odeia tudo que provenha do país),investigar problemas nesse caso funciona mais como ato de ponderação(problematização)do que de ódio.Se ironizo os chavões de efeito do Caetano Veloso,isso não me impede de gostar dele e em nenhum momento me interessou falar mal do compositor de "It`s a long way","Peter Gast" ou "Jeito de corpo".
No caso da demagogia no governo,isso não é privilégio do PT.Em grande medida,"faz parte" do jogo de poder.Mas nem por isso deixa de ser patético.Ou alguém ainda tem alguma dúvida de que lançar um filme como apologia de um governante,deslavadamente,lavando-o,santificando-o com o Omo publicitário seria,no mínimo,oportunismo dos mais descarados em pleno período de antecipação de uma nova eleição fundamental(ou não)para um país?
Também cansa(e como)essa historinha de que qualquer crítica que se faça ao governo, seja encarada sempre como estratégia golpista.Então,todos agora nos basearemos desse estado de imunidade parlamentar de um governo:imunidade crítica,por meio de um documento chamado atestado de perfeição e iremos nos calar como habitantes de um lindo e maravilhoso regime fascista.
Contrastes servem para dialéticamente contribuir para algum desenvolvimento e não para alimentar ressentimentos naqueles que entendem tudo fundamentados em uma ingênua tese de "predestinados a uma perfeição purificadora".Quando o governo começa a querer colocar tudo por debaixo de sua aba,desde ongs e sindicatos até banqueiros,torna-se algo preocupante para um regime que um dia se pretendeu minimamente democrático.Trata-se sim de uma forma de articulação interna de poder um tanto quanto escamoteadora,que deveria encarar de frente essas problematizações.Sem linhas de fuga.
Não é o caso de fugir dos problemas e relembrar as mil e uma boçalidades do governo do Fernando Henrique.Pois é claro que pra um país com um histórico que temos de governantes,de um Sarney,Collor,passando por FHC,talvez muitos ingenuamente pensem:"Chega.Depois de tanta purgação,chegou a hora da redenção,como uma flor agreste que se santifica".Nem tudo é assim tão simples,nada chega tão prontinho,nem há Messias por essas bandas,sinto dizer.O mesmo no caso de Obama.
À parte tanta firulice de discursos,à parte todo o óbvio ululante e gemente de Nelson Rodrigues,e para não dizer que não falamos das flores,algo no mínimo curioso.Vira e mexe alguém comparece com o discurso pronto de que Lula teria falado palavrões em seu discurso.As dondocas se irritam:"Nunca falei um palavrão em minha vida."Devem ir para o céu por conta disso.Mas Lula,como esteve na Terra,ou na terra,no húmus,não falou sequer palavrão.Como poderíamos dizer "tirar o povo da merda?",de uma maneira perfumada,digamos,respeitosa,quando a própria miséria não o é?Se fosse FHC certamente recorreria a ela com alguma higienista terminologia científica,um calvinista falaria "em castigo dado aos não predestinados",um fundador do neoliberalismo em "ordem natural das coisas",um espírita:compensação kármica para um passado cruel e Sarney viria com mais de seus discursos bestialógicos de praxe.
Desculpas e discursos existem aos montes para tapar esse sol com a peneira.Mas quem vive,in vero,na pele, é que sabe aos montes o que "é a lama,é a lama".Ops,a merda,nua e crua.Sem frescuras e nem mais.

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