segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Pessoalidade Impesssoal- parte 2




"Biografia significaria a chance de algo para contar em tempos de morte da narrativa sobre alguém ou sobre si mesmo. De que é feita essa narrativa?

O que nos diz uma vida que pode ser narrada quando a produção industrial da tagarelice, do dizer vazio de quem muitas vezes ainda nem viveu, extermina o sentido de uma vida que pode ser contada?

A desvalorização do que, ao ser vivido, poderia constituir um sincero testemunho para quem não sabe muito da vida desaparece diante do endeusamento de quem fala demais sem ter nada a dizer.


Bob Dylan e Woody Guthrie


Mas nem tudo é sempre tão bonito como foi para Dylan, fã de Guthrie. Aquele que se coloca na posição de fã muitas vezes precisa ser ajudado a ultrapassar sua própria condição, pois a fixação na personalidade de outrem pode deixar de ser um caminho de autoconstrução e tornar-se autodestruição da própria potência de ser quem se é.

A relação da palavra fã com o fanatismo não deve ser esquecida. Assim como o ódio por alguém que mal conhecemos é autoprojeção, o amor como fixação também o é e, na verdade, não é amor nenhum, mas mero estranhamento de si que se explica na falta de autovalorização.

O exemplo de Dylan em relação a Guthrie define uma história de continuidade e superação. É a experiência única da própria individuação e suas metamorfoses que precisa encontrar palavras nos dias de hoje.

E essas palavras estão longe da tagarelice fabricada e consumida como verdade nestes tempos antibiográficos."

(Márcia Tiburi).




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