terça-feira, 23 de agosto de 2011

Em Salão







Trechos de um texto de Marina Colasanti, escolhido não por que seja esse um "blog comunista".

Mas por ser uma bela crônica a respeito de uma relação muito concreta- a meu ver- entre imagens e frustração. Violência.

A propósito, e para que não seja mal interpretado, não tenho nada contra quem usa roupas de marca.

Até porque- também- podemos ganhar esse tipo de vestimenta e seria um ranço ideológico mui pesado ainda querer dar uma de francisco de assis. (Ou não).



"Não faz nem uma semana que na Inglaterra jovens encapuzados depredaram lojas de grifes. Foi uma maneira, rude embora, de afirmar a grife como gênero de primeira necessidade.



... Hoje, a marca Pucci , que vestiu de Sofia Loren a Jackie Kennedy, e com que Marylin Monroe foi enterrada, continua viva depois da morte do seu criador, mas 67% dela pertencem ao grupo LVMH. Quantos sabem o que significa essa sigla, além da palavra luxo?


Um grupo não é uma pessoa. Um grupo não tem rosto, nem raízes. Tem ações e uma imagem construída por profissionais de marketing. Dessa imagem faz parte o preço dos produtos.

Nada de muito novo no processo. Já os cavernícolas usavam joias, de osso ou pedras, mas distintivas. A aparência sempre foi utilizada como crachá. Novo é o constante atiçar do desejo de aparência.

A publicidade não é distintiva ou o é muito pouco. E é massacrante.

A campanha da "coleção de luxo" é concebida para ser vista infinitas vezes por quem pode comprá-la e por quem não pode, pela dona da loja que vai vendê-la e pela faxineira que limpa a loja, pela mulher rica que compra a revista com os anúncios e pela manicure que vê a revista no salão. A todas é dito que a posse daqueles objetos/roupa faria delas "pessoas melhores".


Quanto ganha uma estrela de futebol, apenas para usar uma marca? Os encapuzados de Tottenham depredaram lojas de esporte para roubar roupas grifadas. É o que eles usam, calça e agasalho esportivo. Mas de marcas baratas. São fãs dos astros que vestem as grifes mais caras e estão em um ponto social que não lhes dá grandes esperanças de também se tornarem astros algum dia, seja lá do que for.


A possibilidade mais imediata para subir é vestindo o mesmo que vestem os que já estão no alto. Foi isso o que eles aprenderam, o que lhes foi sempre repetido. Pertencem a uma geração para quem a publicidade faz questão de estar mais presente que qualquer outro tipo de "conselho", porque os outros conselhos não vendem produtos. E estamos vendo agora que foram bons aprendizes ".

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