sábado, 20 de agosto de 2011

Em Sala- A Ficção científica hoje





Trechos do texto de Roberto de Sousa Causo:


"A Guerra das Salamandras" (1936), de Karel Čapek (20 de abril de 2011) é uma obra de gênio, que captura muito do clima social e político do período do entre guerras.

A peça "Ze Zivota Hmyzu", de 1923 usa insetos para satirizar a elite. Claro, "A Guerra das Salamandras" emprega anfíbios em função similar. Mas Čapek também sondava as fantasias de abundância da sociedade do consumo.



" A Guerra das Salamandras", primeiro publicada aqui pela Brasiliense em 1988, abre com a descoberta de uma espécie de salamandra inteligente pelo capitão Van Toch, em uma ilha de Sumatra.

Esse mercador tcheco tem bons sentimentos dirigidos às criaturas, fornecendo-lhes meios de defesa contra os tubarões e encontrando locais seguros de desova, em troca de sua habilidade para o trabalho submarino. Mas acaba deixando-as sob o controle daqueles que, liderados pelo tcheco G. H. Bondy, globalizam seu emprego apoiados em sua altíssima alta de fertilidade.


O enredo não segue um único protagonista. As situações alternam-se, pintando um quadro multifacetado da interpenetração entre salamandras e humanidades. Agrega recursos da "montagem", como truques de artes gráficas e ilustrações, colagem de relatórios científicos e atas empresariais. E o recurso metaficcional culmina com o autor discutindo consigo mesmo no capítulo final.


Esse romance e a obra de Čapek são marcados pelo burlesco, no tratamento leve de temas sérios como a crueldade humana. Por trás do cômico e do absurdo, há um forte sentimento trágico, além da mente de um crítico incisivo de sua época. Isso leva sua ficção para muito além dos esquemas satíricos usuais.


Apesar de ferino e implacável satirista, Čapek não exibe desdém aristocrático pelas "massas". Em vida, foi um democrata que se pronunciou contrário ao comunismo e que escreveu peças antinazistas, colocando-se na mira da Gestapo.

Em "A Guerra das Salamandras", pôe no mesmo saco capitalismo e comunismo, colonialismo e fascismo.


Mais do que outros intelectuais da primeira metade do século XX, ele parece ter entendido que certas utopias ( do livre mercado, do coletivismo, da sujeição das "raças inferiores" ou do Terceiro Reich) são, na era da superpopulação, modos de aproveitamento das "massas" de mão de obra barata que, ele intuiu, formam o moto-perpétuo que faz "avançar" as nações. Mesmo que o avanço seja na direção do abismo.

Neste momento de globalização dos mercados, num mundo de 7 bilhões de habitantes em que a exploração da mão de obra barata desconhece fronteiras e a China ascende às primeiras posições no ranking das economias nas costas de centenas de milhões de trabalhadores, "A Guerra das Salamandras" ainda constitui um alerta sem paralelo na literatura".

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