quinta-feira, 31 de março de 2011

Entre a Casa e a Rua





"Meet me in St.Louis"( ou “ Agora seremos felizes”, no Brasil) costuma ser visto como obra nostálgico. Para certas pessoas ou críticos, a simples pronúncia dessa palavra já instalaria, na hora, certo descaso ou desconfiança.

Não pretendo, nesse momento, realizar um trabalho de crítica do filme. Somente confrontar uma velha postura de que o musical seria, por uma espécie de declaração de princípios, um gênero “menor”- " tolinho". Não dá para seguir adiante em uma arte com certas (in)compreensões enraizadas, o que contribui para truncar as coisas por suas limitadas divisões.

A tendência de exigir uma embalagem de “seriedade” para uma obra de arte remonta ao filósofo grego Artistóteles e sua hierarquização dos gêneros, ao postar a tragédia no topo mais alto da pirâmide estética.

Dizer que “Meet me in St.Louis” é uma obra bem montada, que o trabalho com as cores é notável e equilibrado, e que a delicadeza da direção é o que se impõe seria talvez “chover um tanto no molhado”. Embora ela me prenda justamente por esses fatores.

Fato é que se trata de uma obra evocativa, de memória.

No caso do cinema, postulá-lo como “arte” costuma trazer procedimentos, não raro, bem problemáticos, já que a ninguém ocorreria desprezar Marcel Proust, o escritor francês, por trabalhar a memória. Mesmo não sendo obrigatório gostar do referido escritor.

O equívoco em torno de “Meet me In St.Louis” passa pela leitura de que o mundo do filme se configuraria como dividido em dois polos. De um lado, uma cidadezinha provinciana, quase paradisíaca. De outro, uma metrópole que poderia sugar os protagonistas, sufocando-os de vez.

O que o filme nos mostra é que permanecer na cidadezinha não implicaria, em momento algum, recusar movimentos. Mas, pelo contrário, crescer junto a ela, uma vez que a horas tantas saberemos que a mesma estará passando por um tipo de desenvolvimento.

No caso, mudar para Nova York equivale a encontrar algo mais ou menos pronto, já “crescido”,e, até certo ponto, programado.

Estar junto a uma cidade que cresce implica acompanhar o processo, e consequentemente, o seu próprio enquanto indivíduo, ser parte integrante de um movimento de desenvolvimento não acabado das coisas, enquanto mundo de possibilidades e promessas. Já aqui, os termos interferência e contemplação não se excluem, mas se equivalem.

Portanto, meu comentário, ao ressaltar esse(s) ponto (s), não pretendeu, em absoluto, realizar a crítica dessa belíssima obra já conhecida de muitos cinéfilos. O objetivo, como blog de educação, foi o de mostrar como um gênero tido habitualmente como “menor”, ou “bobagem nostálgica” não é tão tolo quanto pode aparecer em uma primeira visada. Se realizada por diretor europeu, tipo Federico Fellini, por exemplo, a visada seria outra. Como o foi, aliás.

Por fim, a direção do filme é tão perfeita que essas palavras seriam dispensáveis. Digo isso, sem pretender retórica. A obra de Minnelli, afinal, foi das ocupadas com a iniciação e reiniciação do olhar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Parte 3




"Podemos dizer que a teoria inicial da imprensa livre enfatizava- corretamente, no meu ponto de vista- a importância de manter-se uma distância entre as instituições da mídia, de um lado, e as instituições do estado, de outro.

Ao longo do tempo, outros aspectos, infelizmente, foram sendo revelados. Aspectos esses não suficientemente contemplados pela ótica.

O princípio do pluralismo exige, como ponto de partida, uma desconcentração de recursos nas indústrias da mídia. A tendência em direção a uma concentração dos recursos deve ser revertido através de uma legislação que limite as atividades dos conglomerados de comunicação. E, na esfera da difusão, a ideia original de Reith ( BBC) de que a mesma deve estar submetida a um controle unificado deve ser, decidamente, colocada de lado. Embora o princípio do pluralismo regulado exija uma intervenção legislativa nas indústrias, ele exige, ao mesmo tempo, no que se refere às operações rotineiras dessas instituições da mídia, a separação clara dessas instituições do exercício do poder do estado.

O espaço, na verdade, é muito amplo e assim o é propositalmente: aqui, há espaço para uma variedade de formas diferentes de propriedade e controle, dentro do domínio público, do campo da atividade do privado, e do campo das organizações intermediárias- Fóruns públicos.

Mas esse espaço não é ilimitado. É um espaço entre a operação desenfreada de forças do mercado, de um lado, e o controle direto das instituições da mídia pelo estado, de outro. É através da localização das instituições da mídia no espaço "ENTRE" o mercado e o estado, que o princípio do pluralismo pode ser, efetivamente, posto em prática.


Televisão


Os processos de produção e transmissão não devem se situar, necessariamente, dentro da mesma instituição. A organização do Canal 4, na Inglaterra, está baseada nesse tipo de divisão instituição do trabalho entre produção e transmissão, e parece provável que a BBC buscará uma proporção crescente de seus programas no setor independente.

Mas, para tanto, necessário seja que as organizações de produção tenham acesso a fontes diferenciadas de financiamento, tanto público quanto privado, de maneira que as organizações engajadas na produção de programas interessados em satisfazer a interesses e gostos de uma "minoria" não sejam, automaticamentente, eliminados pelo fornecimento de fundos a programas que garantam um máximo de retorno imediato (ou imediatista).


Novas Tecnologias


A crescente globalização da mídia apresenta tanto novas oportunidades, como novos perigos.

Devido ao caráter transnacional de novos meios de transmissão, uma regulamentação deveria ser tanto internacional como nacional. Países devem tomar medidas para garantir que os novos canais de transmissão que estão sendo abertos por meio de novas tecnologias não sejam controlados de tal maneira que o pluralismo e a responsabilidade sejam sacrificadas no altar da "livre iniciativa".

(Prosseguimos posteriormente).

Parte 2





"A teoria liberal clássica realça, com razão, que a independência das instituições da mídia diante do estado é uma característica vital da democracia moderna e uma precondição essencial para que os indivíduos possam comentar, crítica e publicamente o exercício do poder do estado; mas a teoria subestima os perigos que brotam da dependência das instituições da mídia no que se relaciona com um processo altamente competitivo e crescentemente global de acumulação de capital, um processo que resultou num declínio constante no número de jornais e numa concentração crescente de recursos nas mãos de conglomerados da multimídia e nas de empresários idiossincráticos.

Embora a intuição do pensamento clássico liberal retenha sua importância hoje, é igualmente importante garantir, através da legislação estabelecida e garantida, que a pluralidade das instituições não seja radicalmente pela concentração corporativa em grande escala dos recursos no domínio privado.

Isto não é apenas um problema de legislar-se contra atividades monopolísticas que prejudicariam o consumidor restringindo a competição: o que está em jogo não é, simplesmente, a liberdade do consumidor de escolher, mas também a disponibilidade de fóruns públicos em que diferentes pontos de vista possam ser expressos.

O indivíduo não é apenas um consumidor que tem direito a alguma escolha na seleção de objetos de consumo; ele é, também, um participante numa comunidade (comunidades) política, em que a formação da opinião e o ato de decisão dependem, hoje, até certo ponto, da disponibilidade de informação e da expressão de diferentes ideias através da mídia da comunicação de massa.

Na esfera da difusão, uma das justificativas principais para a restrição do pluralismo foi sempre as limitações técnicas...Contudo, novas tecnologias já fizeram crescer, enormemente, o número de canais disponíveis em alguns países.

Mas pode-se, com muita razão, duvidar se, deixada apenas às forças do mercado, essa expansão da capacidade de “suprimento” resultará num crescimento significativo em pluralismo, ao invés de um crescimento ainda maior de recursos nas mãos de grandes conglomerados de comunicação".

Liberdade de expressão e mídias-parte 1





" Num mundo onde a supressão política da informação e das ideias é um lugar comum, a defesa eloquente de expressão de pensamentos e opiniões de John Stuart Mill, por mais impopular que possa ser, ou por mais desconfortável às autoridades, possui, ainda, uma importância atual.

Contudo, a natureza e a organização das indústrias da mídia mudaram enormemente desde o início do século XIX, e, à luz desses desenvolvimentos, podemos ver que a teoria liberal tradicional da imprensa livre possui, quando muito, um valor limitado para que se possa teorizar sobre o papel das instituições dos meios de comunicação de massa nas sociedades modernas.

Mas a consequência do crescimento dessas indústrias é que, no início do século XX, a liberdade de expressão foi sendo, cada vez mais, confrontada por uma nova ameaça: não a que provinha do exercício repressivo do poder do estado mas, antes, do crescimento desenfreado das indústrias de jornais e publicações na qualidade de interesses comerciais.

A imprensa, e, de modo geral, as instituições da mídia, transformaram-se cada vez mais, em organizações econômicas de grande escala, dirigidas para a produção e difusão em massa de bens simbólicos, e foram, cada vez mais, integrando-se em conglomerados de comunicação transnacionais diversificados.

Esses desenvolvimentos questionaram seriamente a importância da teoria liberal tradicional com respeito às condições da comunicação de massa no final do século XX.

Embora a imprensa e outras instituições possam ter assegurado um alto grau de independência diante do poder do estado, muitas dessas instituições se tornaram prisioneiras de um processo que resultou de um grau nunca imaginado de concentração- tanto de recursos quanto de poder- dentro do campo privado".

(John B. Thompson)

terça-feira, 22 de março de 2011

Cultura da Imagem e possíveis desdobramentos






Sendo esse um blog de educação, proponho um espaço- esboço para reflexões já trabalhadas em sala de aula, dentro do programa “Cultura da Imagem”. Muito embora não me considere mestre em nada disso, que fique bem claro:


“...Considerar hoje o espetáculo como algo distinto da encenação cativante (perspectiva ainda clássica, analisada por Guy Debord num texto famoso). Difratado pelas superfícies mercadológicas (shoppings, painéis, máquinas de comércio, etc.) que redefinem o espaço público e pela virtualidade da tecnocultura, o espetáculo obriga-se também a uma redefinição.

Assim é que abandona a “cena” - publicamente afixada como lugar do mito- em favor de uma simulação generalizada, que abole a distância entre “artista” e espectador, confundindo-se com a vida comum, tornando-se relação social mediada por imagens e, no limite, forma de gestão do cotidiano.

O tradicional “espetacular” dá lugar ao especular: convertem-se em show off - exibição narcísica- o próprio ato comunicativo, a dita interatividade, donde o fascínio contemporâneo pelo que é tecnologicamente bem realizado-, e pelo que se torna célebre ou famoso.

Desse modo, a economia mercantil pode gerir a percepção coletiva, apoderar-se da memória e da comunicação social- naturalmente, estendendo sua rede à esfera educacional- e transformando tudo isso numa única mercadoria especular, cuja moralidade traduz-se basicamente pela regra de “o que aparece é bom, e o que é bom aparece” (Agamben).”


São estudos extraídos de livros de Muniz Sodré, aqui presentes a fim de problematizar, dialogar ou tensionar a mim, a ele e ao leitor desse blog.

Comparecem como pontos de partida para uma percepção do que poderia ser hoje uma "Cultura da Imagem", que não se limitaria ao clássico estudo realizado por Guy Debord sobre a “Sociedade do Espetáculo”.

Os tempos são outros, claro, e há cortes e continuidades que nos constituem, dos quais seria difícil escapar. Como diria W.Benjamim: "parar a roda da História".

Ou seja, se não se trata de um caminho inevitável da História rumo a um “regime” que já foi acreditado por muitos, a alternativa de Benjamim- parar os trilhos- me parece também, em certo sentido, inaplicável para o contexto.

Inseridos em alguma História, quais seriam as vozes que escolhemos, seus gerenciamentos, em meio às pressões?

Jogar o jogo da moral utilitarista-hedonista (dois lados da mesma moeda), brincarmos de ciência e arte como salvação psíquica, apostar ao máximo na autoconservação como receio de viver em uma cultura de desconfianças extremadas, acreditar na velha cantinela das vanguardas como atestado de "estar à frente" dos demais- "meros mortais"?

Ou internalizar um “diference”, sem rejeitar, em bloco, a existência dos demais? Existir é uma coisa. Comprar ingenuamente certos estados, outra.

Parar os trilhos, nesse caso, poderia ser: desautomatizar o olhar, os ouvidos...Em suma, os sentidos, desprogramando nossos cumputadores mais íntimos, excedentes.

terça-feira, 15 de março de 2011

Observação




Além da Vida- Clint Eastwood


A precisão do movimento da encenação ocorre na mesma medida da obstinação de protagonistas sempre "no perigo", no limiar de si mesmos, tal como em filme de Howard Hawks.

Levar ao limite suas fraquezas e aptidões, sem fazer com que os personagens deixem de ser "homens comuns" é uma das características da obra.

A parte da tela que encobre o espaço deixa aqui de estabelecer relações com "fantasmas"-, no sentido do clichê de mais um "filme espírita"-, a fim de apontar para uma liga do visível/invisível, como direção de expansão de seres em travessia no mundo.

Ou seja, a tela é o lugar por excelência da contenção- inclusive das expressões nos rostos dos atores-, como também o da expansão.

Filme do olho no olho, da ausência de fugas- com alguns momentos de um realismo algo inquieto, à maneira do cinema independente de um John Cassavetes, quando a acompanhar os indivíduos em seus tateamentos.

Uma mulher (entre outros) necessita abrir mão de uma imagem -de fama-, a fim de ver mais fundo e poder trilhar novos caminhos após confrontar seu limiar, a partir de uma experiência de quase morte.

Excelente.


(Depois voltaremos a ele- espero- já que falta tempo).

"Concluindo", só por ora





“ Enfim, longe de estar emergindo como um reino de algum modo inocente, o ciberespaço e suas experiências virtuais estão necessariamente impregnadas das formas culturais e paradigmas que são próprios de um capitalismo global...


O ciberespaço, por isso mesmo, está longe de inaugurar uma nova era emancipadora. Embora a internet esteja revolucionando o modo como levamos nossas vidas, trata-se de uma revolução que em nada modifica a natureza e identidade do montante cada vez mais exclusivo e minoritário daqueles que detêm as riquezas e continuam no poder. “

(Castells)- do ítem: Nada de novo debaixo do sol



"Há quem considere o movimento da história como sendo algo ascendente ou progressivo.

Possivelmente, como quem considera que as artes tendam, implacavelmente, a um movimento de evolução.

Contudo, tanto em um caso quanto em outro estamos diante de movimentos circulares. As coisas, de algum modo, se repetem sob pequenas diferenças e/ou vestimentas.




Mas, mesmo que a internet se torne prioritariamente um meio de consumismo e entretenimento eletrônico, sempre haverá algum espaço para que uma pleitora de vozes seja ouvida pelo mundo afora- para o melhor ou para pior- por um custo menor, levando-se em conta, claro, alguma inclusão digital para países como o nosso.

Nesse caso, franqueia-se possibilidades para que um número incontável de posturas, fundamentações, convicções esteja tirando disso suas vantagens. Do contrário, poderiam estar silenciadas ou marginalizados.

Se a ocupação do espaço era impossível nos meios de massa, o ciberespaço opera também por vãos, brechas para a comunicação, informação, conhecimento, educação. Para a formação de instâncias estratégicas que podem ou devem ser exploradas com um faro criativo, antes que o capital termine por realizar a proeza de colonizar o infinito.”


Ps. Ou, se "já colonizou", há sempre exceções, outra vozes.

(Santaella/ Alessandro).

quinta-feira, 10 de março de 2011

( Comunicação e Informatização)





“ Uma visão realista de como o mercado opera leva-nos a compreender por que as tradicionais empresas das mídias da era pré digital não estão se encolhendo diante do ciberespaço, mas se dilatando através de alianças com as telecomunicações e setores computacionais.


Companhias telefônicas e de cabo estão se afiliando na consolidação de um oligopólio midiático global que proximamente se transformará em um mais vasto oligopólio comunicacional global, dominado por um pequeno número de conglomerados massivos, com uma miríade de joint ventures ligando todos os jogadores uns aos outros (McChesney).


Nesse cenário, o destino das pequenas empresas é desenvolver a pesquisa e a experimentação até o ponto em que pareçam lucrativas para serem vendidas para um gigante existente.

Do ponto de vista do usuário das redes, no início do século XXI, o uso da internet começou a se cristalizar em duas aplicações fundamentais:

A) O comércio eletrônico e o bom proveito que ele soube extrair da interatividade própria do meio, a saber, a possibilidade de se obter um alto desenho do perfil de interesses do usuário, que deverá levar às últimas consequências o princípio da oferta como isca para o desejo consumista.

B) Os portais estão transformando a internet em um campo manejável de familiaridade entre consumidores e investidores.

Para se ter uma idéia de quão competitivo o capitalismo digital será, basta lembrar que abrir um site de comércio eletrônico sem aliança com um portal é o mesmo que abrir uma loja de sopa salgada no deserto. Quem controlar a porta de entrada que as pessoas usam para iniciar sua navegação, controlará a maior parte do bolo da propaganda e das vendas (McChesney).

O testemunho de Piscitelli (2002) sobre a questão não deixa margem para o cultivo de ilusões. Depois de uma década de vida e de sete de exploração comercial, com a queda da Nasdaq, 50% do tráfego da internet acabou por se concentrar em quatro lugares: Amazon, Yahoo!, Microsoft e Napster.

(Damos prosseguimento posteriormente, mas também com algumas boas notícias).

Comunicação e Informação- primeira parte





"De fato, até 1995 nos USA e 1998 no Brasil, por exemplo, o ciberespaço ainda se constituía como uma estonteante zona livre, na qual a informação e a comunicação facilmente acessíveis corriam por conta de pessoas interessadas e motivadas, o que estimulou uma possível fantasia sobre uma possível reviravolta nas formas de poder social. Os que pensam o mundo sob um prisma materialista brincaram com a idéia de que o “mundo imaterial” das redes computacionais estava criando um novo espaço social despojado de formas tradicionais de propriedade ” (Turckle).


...quaisquer tentativas de predição em tempos tão tumultuados beiram o impossível.


" Utopistas como Negromonte e Lévi, cultivam não só a magia da tecnologia, mas mantém uma crença mitológica de que o capitalismo é um mecanismo justo, racional e democrático, que é benigno e natural. Nessa posição apolítica, deixam, no entanto, de ver que a economia global informacional é a mais recente expressão da mobilização capitalista da sociedade.

A revolução da informação não é simplesmente uma questão de progresso tecnológico. Ela também é significativa para a nova matriz de forças políticas e culturais que suporta. Os recursos tecnológicos de informação e comunicação estabelecem as condições para a escala e a natureza das possibilidades organizacionais, permitindo o desenvolvimento de organizações burocráticas complexas e de larga escala.


Tendo isso em vista, pode-se esperar que, sob o semblante de um espaço aberto, livre e infinitamente navegável, as redes também são crescentemente reguladas pelos mecanismos reinantes do consumismo. Sob a virtualização das relações de conhecimento encontra-se a virtualização de organizações e empresas em rede, comercialmente orientadas" (Robbins e Webster).

quarta-feira, 9 de março de 2011

Lançamento em DVD




"Tempestade sobre Washington", de Otto Preminger é uma obra destinada a não fixar em seu "turbilhão" nenhuma imagem para o espectador.

Preminger, como se sabe, filma a partir de quadros abertos, de maneira a abarcar uma grande massa de personagens, objetos e situações. O espectador pode se sentir perdido diante do fato de não saber exatamente para que lado ir, uma vez que o filme recusa a retórica dos cortes, ao filmar sempre em longos planos sequências (longas tomadas com breves interrupções).

No filme em questão, trata-se de mais um caso da Corte Democrática norte-americana. Ou seja, de um processo em que personagens fazem o que podem e o que não podem para impor suas “verdades”. O que interessa nessa democracia é, claro, o jogo dos poderes. Preminger filma em câmera baixa as escadarias que conduzem ao podium do Senado, o que reforça o estado de espírito algo megalomaníaco da coisa.

Diante de um quadro em que todos querem provar suas certezas, tal cinema nos conduz, vertiginosamente, de um lado a outro, com o máximo de atenção aos detalhes mais ínfimos. No entanto, nenhuma imagem se fixará. Na verdade, passará a ser negada pela posterior, que, por conseguinte, será anulada de alguma maneira.

A pátria das certezas passa, assim, a ser retorcida de seu interior, ao passo que a iluminação acinzentada reforçará o estado movediço das coisas. A rigor, o diretor filma o fugidio, ou seja, o que logo escapa, sob poder do tempo e das inconsistências.

“Sobre tempo”, é necessário dizer que Preminger capta breves instantes destinados a não perdurarem diante de nós. Personagens do alto de suas posturas são fadados ao afunilamento de suas convicções políticas, dentre outras. Inclusive o cínico senador, vivido por Charles Laughton, tão cioso de si, a carregar em seu corpo e rosto um contorno fantasmagórico, resultado de uma iluminação esbranquiçada a compor o quadro de um museu de cera, decadente.

Ninguém esperava que, diante de um filme que pareça prezar certo “distanciamento” haveria lugar ainda para um momento de melodrama, vivido por um homem chamado Ray: uma referência ao cineasta de mesmo nome- Nicholas Ray- que, tal como o referido personagem lutava por seus princípios, na mesma medida em que tentava se livrar das amarras de um passado?

Como "Tempestade sobre Washington" é quase um “filme de tribunal”, Preminger exigirá mais de seu espectador, a respeitar sua inteligência e sensibilidade. No mosaico proposto, há personagens de ambos os lados a lutar por seus princípios, mas o diretor parece, por um lado, não tomar partido. Ou, por outro, toma um pouco o de quase todos, como a dizer que muitos no mundo apresentam lá “suas razões”. O que não impede que mecanismos políticos sejam trabalhados e dissecados a partir da constatação que “os fins justificam os meios”, de maneira crítica e cruel.

A obra em questão, portanto, nos lançará no centro de um podium de poder para, a partir desse quadro, operar um movimento de descentramento. Pelos vai e vens da câmera ou dos acontecimentos restarão poucas certezas e, quem sabe, alguma possibilidade de construção. Junto a uma vaga lembrança do tempo segundo Preminger, captado como o esvair das coisas.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Cultura da Imagem- Prosseguimento






"A linguagem da imagem sempre foi um instrumento de sociedades paternalistas, que subtraíam aos seus dirigidos o privilégio de um corpo-a-corpo lúcido com o significado comunicado, livre da presença sugestiva de um "ícone concreto".

Uma civilização democrática só "se salva" se fizer da linguagem da imagem uma provocação à reflexão crítica, e não um convite à hipnose. Lembremos que uma educação através de imagens tem sido típica de toda uma sociedade Absolutista e paternalista: do antigo Egito à Idade Média.

A elaboração cultural que se vale da palavra transmitida por escrito é apanágio da elite dirigente, ao passo que a imagem final é construída pela mesma para uma massa submetida."

(Reflexões de Umberto Eco)


A imagem do Sambódromo acima remonta a uma Arena Romana em que todos querem e "precisam" participar, pagando altos preços para tanto.

O carnaval nascido no morro sofre uma inflexão já na década de 30, na medida em que as músicas de Cartola ou Ismael Silva não podiam sequer serem tocadas nas rádios. Ou seja, os próprios criadores do estilo deveriam abrir alas para uma festa programada agora para uma classe média.

Uma tipo de cultura criada POR um povo passa hoje por tantas mediações ( jogos, publicitárias, etc), que parece, pelo contrário, realizada "PARA um povo"- a rigor, de maneira paternalistamente destinada a uma massa informe.

A consumação de um processo iniciado nos anos 30 torna o evento algo tão débil quanto um velho hábito de transmitir peças teatrais via TV. Ou bem como alguns grupos de rap que alugam carro zero, única e exclusivamente para gravarem seus clipes em Alphaville.

Enquanto "novos-ricos" , Rede Globo e "respeitáveis" histericamente aplaudem com serpentinas nas vistas.

domingo, 6 de março de 2011

Esclarecimento

Alguns podem ter até entendido a respeito do primeiro texto de Olgária Matos, que a distinção entre masculino e feminino seja uma espécie de rejeição ao homossexualismo, por exemplo.

A mim pareceu que ela se refere a polos de masculinidade ou de feminilidade, presentes mesmo em casais homossexuais.

Tais predominâncias não excluem, portanto, a dimensão andrógina de qualquer casal.

quinta-feira, 3 de março de 2011

O Oba Oba de Megaeventos






Uma aluna que está quase completando o ensino fundamental deu uma bela continuidade a uma discussão iniciada em sala de aula sobre o oba oba que permeia certos eventos esportivos. Que cada leitor fique livre para pesquisar por si mesmo:


"Há relatórios sobre o impacto de megaeventos esportivos sobre a vida das pessoas nas cidades que os sediam. O que desfaz o mito de que trariam somente benefícios à população.

No caso do Rio de Janeiro, a ameaça de expulsão de moradores de áreas que serão usadas para os jogos de 2016 é real. A Onu buscou contato com a FIFA para abordar o assunto. Não foi sequer recebida.

Trata-se de casos de expulsões em locais estratégicos, junto ao encarecimento de moradias, dentre outras pressões.

Casos

Em Seul, a inflação chegou a 20 por cento nos oito meses anteriores aos jogos, e o preço da terra subiu 27 por cento.

Em Atlanta, 15 mil moradores foram expulsos de suas casas em 1996, e a inflação no setor imobiliário passou de 0,4 por cento para 8 por cento no ano dos jogos.


Impactos na Habitação

1988- Olimpíadas de Seul

15 por cento da população foi violentada e expulsa de seu terreno, e 48 mil edifícios foram demolidos durante a preparação para os jogos.

Olimpíadas de Barcelona- 1992

Duzentas famílias expulsas para a construção de novas rotatórias.

Resultou em aumento de 131 por cento no preço dos imóveis.

1994- Copa do Mundo dos Estados Unidos: 300 pessoas expulsas de suas residências.

1996-Olimpíadas de Atlanta: 15 mil residentes de baixa renda despejados.

2000-Olimpíadas em Sidney: 6 mil desalojados.

2008- Olimpíadas de Pequim: Despejo em massa, dessa feita por homens não identificados.


2010- Copa África do Sul- Mais de 20 mil moradores removidos para as áreas mais empobrecidas da cidade.

2016- Olimpíadas do Rio: Diversos assentos estão sob ameaça de despejo, por conta de construção de instalações esportivas para os jogos".

(Myrian Nogueira)


A Onu continua a receber suas denúncias em alta escala para o caso brasileiro. O que não abarca somente a cidade do Rio de Janeiro, como outras que também sediarão os jogos, tais como Fortaleza, Belo Horizonte, etc.

Em tais momentos, o Estado de Direito torna-se um "verdadeiro" Estado de exceção, em que tudo passa pelo terreno do possível, a fim de que ocorram os tão sonhados eventos: construções inapropriadas, com a ausência de critérios para a ocupação de locais pelos setores imobiliários, expulsão de moradores sem as devidas -ou indevidas- contrapartidas... E por aí vai, ou vamos.