quarta-feira, 6 de abril de 2011





O cinema, ou a música e a literatura muitas vezes são vistos como válidos enquanto fabricam as ditas "obras-primas". Os modernistas passaram a questionar tais pressupostos, ao tentar aproximar arte e vida.

Daí que a oralidade da linguagem do dia a dia passa a ser valorizada, a firmar novos modelos.

Nesse insípido espaço blogário, quando abordado foi o cinema de Roberto Rossellini, comentei algo sobre uma alternativa à linguagem oficial de uma arte. Mais do que isso, como um estar "fora de uma dada linguagem", como recurso coerente às propostas do diretor italiano, inserido em novo momento.

Como teria, para ele, sido possível filmar a transmutação em um ser, ou um "milagre" de outra espécie- já que mudança, por si mesma, pode se constituir como um deles (?)


Filmar um mundo implica grandes armadilha. Talvez a maior delas, no cinema e tv, ou derivados. Diretores como Eric Rohmer, Jean Renoir e Howard Hawks foram alguns dos que deram raríssima conta do estado de presença do homem, do milagre de se estar vivo no universo, de alguma maneira.

Caberia, inclusive, dar conta de como o universo reagiria a essa presença nos termos de uma encenação, e- ainda- de como o homem reagiria a esse olhar ( vide "Hatari!", de Howard Hawks, Rossellinis,...)


Nesses casos, o "Homem no Centro"- chamado tecnicamente antropocentrismo- é atravessado por uma bela de uma reviravolta, passando também a ser olhado ( "O Professor Aloprado", de Jerry Lewis, "Blow up", de Michelangelo Antonioni, Shyamalans, como no desfecho de " Fim dos Tempos"), como um equivalente à pintura de Velázquez no cinema, em que o quadro é que nos fita.

Em certos casos, como no dos Godards pós-80 ou nos citados Rossellinis, um ponto capital. Resistir à tentação da "fôrma a-histórica" da obra-prima, não condizente com uma postura mais urgente da arte de se atrelar à vida, ou a outra coisa.

A respeito do assunto, fala melhor uma buriladora da mentalidade modernista(ou pós) no Brasil:


"O indizível só poderá me ser dado através do fracasso da minha linguagem. Só quando falho a construção é que obtenho o que ela conseguiu."

(Clarice Lispector).

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