quinta-feira, 14 de abril de 2011

Cobertura: parte dois- ou final de "Mídia, cobertura e estado" (ou o começo?)





“A referência de Nelson de Sá à Fox News deveria ser estendida à rede CNN, que sempre agiu como cheerleader das operações oficias no exterior.

Qualquer jornalista estadunidense razoavelmente bem informado sabia, por exemplo, que Sadam Hussein não tinha e não poderia ter “armas de destruição em massa” que deram o pretexto para o ataque ao Iraque antes mesmo de qualquer investigação, simplesmente porque as armas de Hussein foram fornecidas pelos Estados Unidos e aliados durante a época em que ele era um fiel vassalo da Casa Branca (aceitando mesmo envolver seu país na guerra contra o Irá, entre 1980 e 1988).

A imprensa, mesmo sabendo disso, “comprou e vendeu” a versão do troglodita George Bush Júnior, pois o que estava em jogo eram vastos interesses vinculados às indústrias do setor bélico (armas, etc.), petroleiro, e outros relacionados, dos quais as próprias corporações midiáticas participam como sócias ou acionistas.

Nos USA, a Fox News mencionada é um caso particular de ultranacionalismo xenofóbico, cujas “reportagens” são caricaturais e beiram a histeria macartista ( mais ou menos como é o caso de grande parte da “Veja” no Brasil ). As outras emissoras estadunidenses, com matizes e nuanças, não são tão escandalosas, mas não estariam assim tão isentas dos jogos em pauta. É claro que um ou outro órgão da mídia corporativa pode destoar do “consenso”, por razões próprias.

Já no Brasil, a cobertura da ocupação no Complexo do Alemão, por exemplo, não foi absolutamente monolítica. A Rede Record até ofereceu certa abertura para a queixa de moradores das favelas (cerca de "apenas" 150 mil) contra um festival de brutalidades, embora sem maiores aprofundamentos. Isso pode ser explicado pela necessidade de diferenciar-se de sua concorrente (Rede Globo).

No Correio Braziliense, dia 29 de novembro, a jornalista Renata Mariz publica:

“No início da tarde, uma senhora baixa que gritava na praça, com uma criança no colo, era o retrato do desespero: tem 24 horas que meu menino de 16 anos está sumido. Botaram o corpo dele para os porcos ", corava a mulher, identificada como Dineia. Todos os moradores sabem onde fica o local sobre o qual a senhora falava.

" É na vacaria, tem corpo lá sim," confirmaram cerca de 10 transeuntes consultados pela reportagem na subida do morro na Vila Cruzeiro. O local é coberto por mata e pedras. Em vez de vacas, criadas tempos atrás, havia porcos se alimentando de cadáveres... Moradores defendem, enfaticamente, que os corpos são de “vagabundos”, mas também de “inocentes”.

As denúncias se multiplicam, como notado em sites, blogs e grupos de discussão mantidos pelo jornal “Brasil de Fato”, pelo “ Tribuna Popular” ou pelo “Passa Palavra”. As violações envolvem desde assalto a geladeiras, roubos de celulares, destruição de móveis de casa, chegando a extremos de desaparecimentos, como no caso relatado por Renata Mariz.

A população do Complexo foi submetida ao expediente fascista do mandado de busca coletivo, que autoriza a polícia a entrar na casa de qualquer morador, não por ele ser suspeito de algo, mas por simplesmente habitar o local.

Além de ferir um princípio caro à Constituição, tal tipo de mandado coloca em prática um método de punição coletiva muito caro a Adolf e aprendizes. É claro que nada disso, com raras exceções (honradas?), transpareceu nos veículos mais importantes da mídia.

Não se trata de uma exceção, mas da regra. E uma regra perigosa, por ser capaz de cegar boa parte da opinião pública... A cegueira orquestrada, legado primoroso de Joseph Goebbels aos seus seguidores, pode levar a extremos, como aconteceu na História, quando “ ninguém sabia” que milhões de judeus, ciganos, entre outros eram executados em campos de concentração.

É melhor “não saber” o que aconteceu no Complexo do Alemão, nem o que acontece diariamente nas chamadas periferias do Brasil. É mais confortável. Afinal, A Copa vem aí. E depois os jogos.

E depois algum outro espetáculo, porque ninguém é de ferro. Certo?"

( A partir de JA jr., VM, e RM)

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