sábado, 23 de abril de 2011

Pisando na Terra





Quando os Beatles pisaram em terra estrangeira - leia-se: América do norte- foi como ter pisado na Lua. A esperteza de Brian Epstein, empresário da banda, ao convocar um turbilhão de pessoas a ir ao encontro do grupo, que então chegara de avião, foi uma das estratégias marketeiras mais bem sucedidas da história.

Depois se superariam no quesito em Srg. Pepper´s. Ainda haveria um factóide espalhado por rádio a respeito de uma fictícia morte de Paul McCartney, o que fez com que discos travados nas prateleiras fossem revendidos.

Já quando os Kinks chegaram aos USA, de cara enfrentaram a aridez de rígidas leis protecionistas no país, tendo sido obstruídos da disseminação "global".

Se no caso do marketing beatle, o mundo pop teria a ganhar. No segundo, teve a perder. A não ser pelo caso dos próprios garotos de Liverpool, que revelariam clara influência da banda barrada no baile da exportação, assim como os últimos assimilariam elementos dos primeiros (Lennon elogiou com destaque a banda de Ray Davies em entrevista).

Os Kinks utilizaram precocemente cítaras em sua música- para quem não conhece "See my friends", talvez valha a pena conferir. Traçaram um retrato agridoce da burguesia inglesa, foram irônicos com os seguidores de modas. Nesse sentido, anteciparam Beatles e comparsas.

Criaram a distorção na guitarra elétrica, por obra de Dave Davies- guitarrista e irmão do compositor da banda-, ao amputar uma parte do amplificador de som. Estabeleceram a sonoridade protopunk, tocada com solidez e seca pegada. Assim como se filiariam, com o tempo, a uma bem humorada "tradição" do vaudeville.

Abriram as portas para o glam rock, sobretudo com "Lola versus Powerman", sem, portanto, se fixarem à escola.

Nem por isso deixariam de apostar em lirismo vivo, como prova o disco da foto, espécie de "ópera rock" a respeito de um vilarejo inglês: morada de vida simples, com direito a blues, folk, música de rádio, desenho animado, jazz-canção.

No caso, a sofisticação da banda revelaria-se pontuante, como esforço, trabalho e experimento que atingisse, por outro lado, o clima proposto de espontaneidade.

O disco, enfim, é uma festa, uma celebração, sem os grandes desbragamentos dionisíacos dos Stones, menos ricos em humor e imaginação.

Um dos grandes elogios do despojamento lúdico na arte.

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