


"Pela natureza mecânica da câmera, o cinema reproduz a realidade com maior objetividade, ou pelo menos é capaz de dar, melhor que nenhuma outra, a impressão da realidade, de nos impor a aproximação ao mundo, de expressar o peso das coisas, de rodear-nos com a presença dos seres.
Poderão objetar que uma reprodução não é arte, mas basta considerar que falamos de imagem e que dissemos que o cinema nos dá a impressão da realidade... E que ajunta, à imagem mais fiel, um elemento misterioso e inapreensível.
Contentemo-nos agora com o afirmar que o cinema é igualmente uma arte transfigurativa- se podemos usar esse neologismo. A câmera não se limita a copiar, recria; não reproduz, produz, segundo expressão de Balazs. Além disso, câmera não criou o cinema, mas lhe permitiu nascer.
E é “público” que todas as buscas pictóricas (impressionistas), literárias e filosóficas (Bergson) haviam preparado o caminho para a sétima arte, para sua nova visão das coisas e de suas relações no mundo... Através da opacidade de presenças cotidianas, descobre suas possibilidades, ou sua interioridade.
Dessa forma e, paradoxalmente, o cinema é, ao mesmo tempo, a “arte mais realista”- nenhuma nos situa com tão penetrante insistência frente à massa informe das coisas- e a mais “irrealista”, a mais “surrealista”- no sentido que dá a esta palavra Jean Epstein, ou Claude Mauriac- o mais afetivo, o mais ilógico, o mais apropriado para transcender do parecer ao ser, do individual ao universal, da imagem à idéia.”
(Marcel Martin)
Imagens acima de obras de cabeceira: "Marnie", a culminar ("fechar") a melhor fase de Alfred Hitchcock, "O Intendente Sansho", a obra-prima de Mizoguchi e "Bom dia", de Yasujiro Ozu.
Texto bacana. Gostei.
ResponderExcluirCumprimentos cinéfilos.
O Falcão Maltês
Obrigado, Antonio.
ResponderExcluirAbrs