domingo, 12 de junho de 2011

Pausa para os 80 anos de João






Percebe-se que a obra de João Gilberto é constituída por uma busca obstinada de depuração pelo silêncio. Como uma dia alguém já disse: uma quase "não emissão" de som.

Se o artista chegará a seu auge, ou irá se perder... Ou se já o atingiu, sem tamanho radicalismo, o tempo é quem dirá melhor.


Tom Jobim tratava o piano- e sua própria orquestação- como algo que, sonoramente, se dissolvia para, então, poder retornar: como breves pincelamentos de camadas sonoras que iam se recompondo, prontas para uma nova dissolução das paisagens musicais.

Nesse sentido, foi filho direto do impressionismo, a flagrar o fugidio das formas, ao ponto da intersecção entre o "real" e o onírico, por vezes, etéreo.


Em Burt Bacharach, novamente observamos essa radical busca por elementos de emissão silenciosa (refiro-me às melhores gravações que, em sua maioria, são as executadas e cantadas pelo próprio), agregados a um forte sentido do clássico no maestro- creio que Bach, sobretudo. Sobrepostos às camadas de jazz, do jazz/canção e do soul.

Esse tipo de combinação confere uma revitalização ao formato "canção", ou canção erudita, se preferirmos. A algo que, como em Bach, quanto mais buscamos as melhores fontes, não envelhece. Até porque não há rótulos: Pop?
Popular erudita?

Música de silêncios, junto a rompantes imprevistos em soul/ gospel.


Tal como Jobim, que não foi exatamente bossa nova, mas passeava no momento por ali.


Aliás, tenho plena convicção de que, à sua época, Bacharach, Jobim e João Gilberto foram os caras. E, que dentro de seu tipo de depuração sonora- de pseudo simplicidade-, ainda não foram superados.

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