sábado, 9 de julho de 2011

Em Sala: Ideologia e Ansiedade- 1






Para o filósofo Slavoj Zizek, a tragédia que inaugurou o século foi o 11 de Setembro. Como os liberais continuaram a fingir que acreditavam em seu sistema, a conseqüência ridícula foi a crise financeira de 2008.

A seguir, um arremedo da entrevista, realizada por Ernane Guimarães Neto:


“Filmes de Tarkóvski têm apelo diferente das produções de Hollywood que você citou. Está querendo apelar para alguma burguesia?

Quem é a burguesia? Estou cada vez mais convencido de que peguei muito leve com Tarkóvski. Ele não é necessariamente melhor que Hollywood.


Ideologia e Ansiedade


O que a ideologia nos diz hoje? “Seja você mesmo, realize seu potencial.” Não, ultrapasse a si mesmo! Deleuze diz que a grande arte olha para o mundo como se fosse pré-humano.


O senhor fala na pressão ideológica para o indivíduo “realizar seu potencial”. Podemos dizer que ela gera uma ansiedade civilizacional?

A ideia usual de ansiedade é a de que ela está conectada de algum modo à morte, à perda romântica.
Mas Lacan fez algo maravilhoso ao dizer que a ansiedade aparece não com a perda, mas com a proximidade do objeto de desejo. Sua noção de ansiedade é prazer demais.
Precisamente o resultado do “seja você mesmo”, uma reação a essa fruição obscena. Lacan é crucial: a ansiedade é claustrofóbica, é ter em excesso.


Brasil e política

“Vocês, brasileiros, têm sorte de não terem recebido uma dose muito grande de populismo. Na Argentina, o peronismo foi a pior catástrofe que aconteceu.


O senhor fala em populismo baseado no medo...

Não há outro tipo de populismo. Populismo envolve um momento de mistificação, pois pressupõe a união nacional contra um inimigo externo. Nunca questiona realmente a ordem existente- se olharmos de perto, nem Chávez faz isso.


E Lula?

Foi mesmo populista o governo Lula? Não foi, pelo que sei. Não vamos confundir populismo com apelo popular. Vou dizer algo horrível para um esquerdista radical: numa escolha entre Chávez e Lula, fico com Lula. Estou ciente das limitações de Lula, dos acordos que fez, de George W.Bush considerá-lo seu melhor amigo na América.



Crise econômica

Por exemplo, na crise de 2008, fui contra os demagogos que diziam para não ajudar Wall Street. Se as finanças quebram, todos vão junto. Concordo que o capitalismo como o conhecemos não pode sobreviver, mas a questão é o que fazer agora.


O Silêncio

Quando surgiram suspeitas sobre o enriquecimento do atual Ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, a presidente Dilma Rousseff foi criticada por não comentar o assunto. Como podemos ler essa manifestação da negação?

Há situações em que a única atitude é não dar opinião. Não conheço esse caso específico. Se dar uma opinião é aceitar toda a maneira como o problema é colocado, o melhor é não dar opinião. Não tenho nada contra a punição... Mas a mídia burguesa gosta desse tipo de escândalo porque reafirma o “sistema”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário