quinta-feira, 28 de julho de 2011

Frank Tashlin- Continuidade







Trecho de entrevista realizada por Peter Bogdanovich:


1- "Quais diretores você aprecia?


Qualquer um que seja bom, creio. Sou grande fã de Hawks. Ele tem coragem de fazer de tudo: comédias, musicais, westerns...E creio que Welles é muito bom. Não existe filme melhor do que "Cidadão Kane" ou "The Magnificent Amberson" (Soberba).

Alguns anos atrás, quando eu trabalhava na RKO, assisti ao copião daquele filme sul-americano que ele não chegou a terminar- "It´s all True" (sobre o Brasil). Muito era em cores.

Não sei, devo ter ficado sentado por umas dez horas, e não consigo descrever o que vi. Era diferente de tudo que eu já tinha visto.



2- Pessoas como Godard e Truffaut são grande admiradores de sua obra. Você tem consciência da reputação de que goza na França?

Um dia, fui a Paris. Nunca tinha estado lá. Eu não conhecia ninguém, nem ninguém me conhecia.

De qualquer maneira, entrei numa livraria e, numa estante, lá estava o meu nome na capa de uma revista, Positiv. Peguei a revista da estante e a folheei. Eu estava tremendo. Ao todo, umas trinta páginas sobre mim- três ou quatro autores, uma lista de meus filmes.

E o que diziam!? Não sei ler francês. Umas poucas pessoas traduziram um pouco pra mim. Desde então, tenho incluído algumas nos meus filmes especialmente para o público francês- pequenas coisas que sei que só eles perceberão.


3- A maioria dos seus filmes inclui mulheres com seios grandes, e há muitas gags a respeito de seios exagerados.

Sim, isso é parte da coisa. A imaturidade do macho americano- esse fetiche com seios. Não se podem vender pneus sem seios. Imagine uma estátua com seios como os de (Jayne) Mansfield- imagine aquilo em mármore. Não gostamos de pés grandes, ou de orelhas grandes, mas transformamos uma mulher em ídolo porque ela tem seios enormes.


4- Quais dos seus filmes são os seus prediletos?

Tenho grande satisfação com "Will sucess spoil Rock Hunter?" ( "Em Busca de um Homem", 1957). O meu amigo Buddy Adler era um grande produtor. Buddy disse: "Todo mundo me aconselhou a não deixar você fazer isso, mas vá em frente, você sabe o que está fazendo".

Assim, por causa de Adler, "Rock Hunter" não fez concessões.


5- A Televisão:


" A propósito, eu realmente odeio a televisão. Não é experiência alguma: as pessoas ficam sentadas em casa- não participam- , apenas ficam lá sentadas, mudam de canal e fazem críticas. Detesto.


6- Jerry Lewis:


Como é dirigir Jerry?

Jerry nunca ensaia. Faz uma única tomada e está feito. Tentar ensaiar Jerry é a morte. Às vezes, quando tenho de repetir uma cena, ele a altera e faz algo completamente diferente. Esse é o charme dele- nunca se sabe o que ele vai fazer em seguida.

Ele não lê suas falas até o momento em que entra no set, e de qualquer modo nunca se prende ao que está escrito- normalmente, ele melhora as falas.

Só digo a ele em linhas gerais do que se trata e ele a faz, de uma vez só, com muito êxito. Mas não se ganha crédito algum por fazer um filme de Lewis."



Observação do bloguista:


1- A propósito, assisti por esses dias ao "Bagunceiro Arrumadinho", em que a direção de Frank Tashlin trabalha figurações do consumo- seja pessoas ou objetos-, como algo da ordem do grotesco e do caricatural.

2- Nota-se também seu horror ao culto monetarista em um hospital, junto a uma abordagem desmistificadora da "mulher romântica", via paródia sarcástica: caso da moça pertencente à torcida de futebol americano, por quem Jerry se apaixona. Contrariamente a ela, há a mulher comum- que é apaixonada por Jerry.


3- Já as pessoas que trabalham na TV são tratadas como a principal fonte de renda para hospitais psiquiátricos.

4- Ao passo que inúmeros objetos de supermercado são implodidos por seu humor caótico, atroz, tal como as lojas de bens domésticos e roupas em "estoque quente", de seu encantador "Errado pra cachorro".


5- Portanto, percebe-se que a estética de Frank Tashlin opera como que no espaço de suas obras: algo que, a qualquer momento, pode vir a abalar sua moldura clássica, figurativa, a despeito de seu inegável senso do Belo.

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